Para que os medicamentos funcionem da forma esperada e com o efeito correto, eles devem ser formulados, embalados, transportados, armazenados e dispensados ao consumidor final da maneira correta, de forma a garantir a máxima segurança quando da administração do medicamento ao paciente.
Nesta postagem, daremos maior enfoque ao armazenamento dos medicamentos, especificamente, ao armazenamento domiciliar e aos cuidados que devemos nos atentar!
É muito comum encontrarmos nas casas brasileiras a famosa “farmacinha”, uma caixa que contém medicamentos diversos, sejam estes isentos de prescrição (MIP’s - Medicamentos Isentos de Prescrição), os mais comuns de encontrarmos, ou até mesmo medicamentos com venda apenas sob prescrição médica. Ter os medicamentos armazenados em casa pode parecer simples e até mais cômodo, evitando a ida às farmácias e drogarias com certa frequência e facilitando o acesso quando em um momento de dor ou desconforto, porém, é necessário ter em mente que a armazenagem correta dos medicamentos é tão importante quanto a sua correta formulação.
Se um medicamento estiver com o seu estado normal alterado, essa alteração pode não só comprometer sua função farmacológica (ou seja, o seu efeito esperado) deixando o fármaco inativo, como também pode deixar o medicamento nocivo ao paciente, podendo causar reações indesejadas. Nas indústrias farmacêuticas e estabelecimentos de saúde, inúmeras normas e boas práticas são seguidas a fim de assegurar ao consumidor final um medicamento de qualidade, e se buscarmos no site da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) podemos ter acesso a essas normas e regulamentações necessárias.
Buscando na literatura, encontramos pesquisas voltadas ao estudo da armazenagem de medicamentos nos domicílios brasileiros. Em um dos artigos, foi visto que dentre 101 domicílios visitados, 98 possuíam ao menos um medicamento guardado. Dentre os dados levantados neste estudo, os mais interessantes e relevantes nesta postagem são em relação aos locais de armazenamento dos medicamentos: 43% armazenados na cozinha; 28% em dormitórios e 14% em banheiros. Além do armazenamento, foi também levantada a questão da validade dos medicamentos e o quanto esse fator era seguido pelos pacientes. A data de validade foi encontrada em 83% dos medicamentos analisados e destes, 16% estavam com o prazo de validade ultrapassado.
Mas então, quais cuidados e atenção devemos ter com essa armazenagem? O calor é um dos fatores responsáveis por alterações nos medicamentos, podendo alterar a estrutura e funcionamento da molécula do princípio ativo (fármaco, responsável pelo efeito esperado do medicamento) ou mesmo alterar excipientes/veículos que proporcionam ao medicamento as características necessárias para sua ideal absorção, distribuição e biodisponibilidade no organismo, para dessa forma desempenhar seu efeito esperado.
Portanto, concluímos que não é recomendado armazenar os medicamentos em locais que possam ter variações de temperaturas, como banheiro, na cozinha próximo ao fogão. Variações de temperatura com aumento em 10°C já aumentam cerca de 4 a 5 vezes a degradação de um fármaco. Locais onde há exposição solar também devem ser evitados, pois além da temperatura, alguns fármacos podem ser fotossensíveis, ou seja, sofrerem danos quando em contato com a luz, devendo estar armazenados ao abrigo de luz. Da mesma forma que não é recomendado deixar o medicamento exposto ao calor e à luz, também não é recomendado armazenar em refrigerador ou geladeiras, a não ser que isso for explicitado na bula, que deve sempre ser lida e seguida, e mesmo nesses casos, não podemos congelar o medicamento.
Pensando no armazenamento em banheiros, seus malefícios além da variação de temperatura também estão relacionados a alta umidade ocasionada pelos banhos. A água que um medicamento contém é a quantidade adequada para sua formulação e sua ideal atividade, e a umidade em excesso pode prejudicar o fármaco principalmente quando pensamos que ambientes úmidos facilitam o desenvolvimento de micro-organismos como fungos e bactérias.
Conforme constatado em mais de um estudo, a validade dos medicamentos presentes nas farmácias domiciliares é também um grande problema enfrentado, visto que os consumidores tendem a guardar os medicamentos vencidos, podendo consumir após a data de validade, o que, assim como as demais exposições citadas anteriormente, tem a possibilidade de causar alterações significativas nos fármacos, que podem perder seu efeito ou se tornarem nocivos. Além disso, é importante citar o fato de que o descarte dos medicamentos vencidos ou mesmo dentro do prazo de validade não devem ser realizados de qualquer maneira. Não podemos descartar medicamentos em lixo comum ou na pia/vaso sanitário, como se sabe que é o realizado pela maior parte da população, que não tem orientações adequadas sobre o descarte correto.
Disso, podemos entender a importância no correto armazenamento dos nossos medicamentos! Eles devem ser utilizados visando o efeito para o qual foram desenvolvidos, e portanto deve preservar suas características esperadas, que foram muito estudadas, adaptação destas até o medicamento ser lançado no mercado. Outro ponto que não podemos deixar de dizer: a procura de um médico ou farmacêutico é essencial para evitarmos a automedicação e possível eventos adversos decorrentes do uso dos medicamentos.
Referências Bibliográficas:
SCHENKEL, Eloir Paulo; FERNÁNDES, Luciana Carvalho; MENGUE, Sotero Serrate. Como São Armazenados Os Medicamentos nos Domicílios? Programa de Pós Graduação em ciências farmacêuticas da Universidade do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
FIGUEIREDO, Márcia Cançado; BONACINA, Caroline Maria; ORTIZ, Flavia Tomedi. Armazenagem de medicamentos em domicílios pelos moradores do bairro figueirinha, em, Xangri-lá, RS. Faculdade de Odontologia da Universidade do Rio Grande do Sul.